terça-feira, 16 de junho de 2009

nada bonito

Aqui também, bem perto do lugar onde trabalho, ficava um homem sentado numa esquina. Ele estava lá todos os dias, ao pé de uma árvore, sobre uma pequena mala, fumando e conversando com alguém que não estava ao lado dele. Eu o via sempre, mas nunca consegui contato visual com ele. Até que um dia lhe ofereci a comida que havia sobrado do almoço, ainda quente, embalada pra viagem. Ele aceitou e agradeceu de maneira muito gentil. Fiquei querendo conversar com ele, saber dele, por que vivia ali, se queria ajuda. Fiquei pensando sobre como abordá-lo sem parecer invasiva. Infelizmente não deu tempo. Poucos dias depois, numa manhã qualquer, notei a muretinha onde ele se sentava destruída. E ele olhando lá do outro lado da rua, desolado, provavelmente se sentindo ainda mais excluído. Eu não soube o que fazer, nem sei se havia o que fazer naquela hora. O Dudu me falou que a isso se chama “higienização” - que horror. Como se resolvesse alguma coisa.

Sábado à tarde em São Paulo. Eu e Dudu andando a pé, querendo encontrar um samba onde ele havia marcado um encontro. De repente, um quarteirão com um movimento diferente. “Espera.” Tentamos entender. “Devem ser moradores de rua tomando sopa, vamos.” Deviam ser moradores de rua sim, mas não estavam tomando sopa não, estavam todos fumando crack. Todos: crianças, jovens, adultos e velhos. Mais de 100 pessoas. À luz do dia. No meio de São Paulo. Não sentimos medo, como se poderia presumir. Eles nem se deram conta de que estávamos passando. Pareciam não estar bem ali, mas num outro mundo. Parecia filme de ficção científica, mas era real. Eu não consigo entender como é que as coisas chegam nesse ponto sem que as pessoas cujo trabalho é cuidar disso não façam nada.

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